sábado, 18 de abril de 2009

Caveira elétrica

Cão em figura de gente, maria-homem, menina levada da breca, Marisca era adorada e temida pela molecada que campeava solta em meio aos becos e quintais do Morro, empinando curica, correndo atrás de papagaio, tecendo rabo de plástico ou papel de seda de cangulas e rabiolas, jogando fura-fura, pulando macaca, brincando de pira ("maromba", “coca”, “sisconde”, “cola”, “mãe” e outras tantas). Mais de uma vez sangrara narizes de quem se atrevera a malinar seu irmão mais novo, o Sarapó, um fiapo atrevido que se fiava na força física e moral da irmã mais velha. E quando não podia no braço, havia sempre uma estaca e os sete irmãos mais velhos, todos eles cevados em uma academia de fundo de quintal, manejando pesos forjados a cano e argamassa. Ninguém ali, em sã consciência, se metia com Marisca e seus irmãos. E, além de tudo, eram todos filhos de Dona Francisca, uma das pioneiras na Matinha, devota do Sagrado Coração de Jesus, catequista estimada na Igreja de Fátima. Tava escurecendo quando Marisca perguntou: - Tu tens medo de caveira elétrica?

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