sábado, 18 de abril de 2009

Pixãin

Volta à calçada e observa absorto o pires no chão. Passa o dedo. É sal! Nem bem constata e o vulto já lhe salta aos olhos, de costas, do galho ao chão com uma verde manga empalmada. Vem para o seu lado, um tantinho maior que ele, movimentos rápidos como os de Mogli. Senta-se perto do pires, corta a manga com a faquinha, passa no sal, leva à boca, lambe os dedos e só então se dá conta daqueles dois grandes olhos em si. Percebe a coisinha magra e escura que a devora – e à sua manga com sal - e dá as boas-vindas: corta outro pedaço, passa no sal e oferece: - É manga verde, com sal! Eu peguei lá no olhinho!, e aponta o topo da Mangueira. O garoto aceita, nunca tinha comido assim, na faca, com sal, de lamber os dedos e os beiços e de aconchegar –se sob a proteção de Marisca, oito anos, um azougue de cabelo pixãin.

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