domingo, 31 de julho de 2011

Graça

Graça era negra, tinha não mais que 17 anos. Viera do Marajó, trazida pelo tio, cabelos enrodilhados que minha mãe comparava a cocozinhos de cabrito e a mim me lembravam a música do Roberto Carlos na Marajoara - debaixo dos caracóis de seus cabelos, uma história pra contar, de um mundo tão distante. Falava pouco a menina, com a boca nem precisava, que os olhos diziam tudo. Malaia, a bunda perfeita como uma meia-lua, mal contida no shortinho que ela vestia quando, aos sábados, subia o morro para fazer as unhas e ver televisão na minha casa.
Nessa hora, no bilhar da esquina, tacos ficavam suspensos no ar, goles de cerveja eram interrompidos, copos sebosos lambiam a saliva das bocas, enquanto os olhos se espichavam no esforço de entrever os meneios da cabocla. No Seu Teixeira, ela era uma unanimidade: "Nem a Rita Cadillac era tão boa!".
Graça era puta, mas não era uma qualquer. Chegara à pensão da Eunice para o coronel que controlava a casa. Tinha privilégios. Era exclusiva, até que o comandante mandasse vir outra do interior, onde miséria e menina bonita são sempre uma combinação conveniente.
Não era alegre, nem triste. Ria um riso moleque, pulava macaca e adotou de pronto Marisca como afilhada. De mim não gostava. Notou meus olhos compridos no busto dela, quando me carregou uma vez. Me chamava de sonso. Aos seis anos, eu era. Graça adorava meu irmão caçula, acho que porque ele chorava muito quando ela, malina, dizia que ia levar ele pro quarto.

Nenhum comentário:

Postar um comentário