sábado, 18 de abril de 2009

A dor de uma saudade

Aos quatro anos, nem suspeitava nada disso o garoto que acaba de deixar perplexo a boléia do caminhão, bicorado na saia da mãe, olhando de esguelha o morro, divisando a casa de taipa, a mangueira e as saúvas de bundas imensas que uma miríade de moleques caça com estardalhaço. Cauteloso, olhos arregalados, aproxima-se do bando sem eira nem beira, todos descalços, enlameados e felizes deslizando em meio ao mato e à lama, estranhando aquele guri remelento de short, camisa e chinelos, o pequeno vizinho da casa de palha desocupada, onde há um pé de cupuaçu no quintal, um fosso de 16 metros de profundidade e muita lata de merda atirada por toda a vizinhança. Ele assunta a brincadeira dos moleques, capturando formigas em meio ao aguaceiro. - Tanajura!, definiu a mãe, advertindo em meio à balbúrdia das coisas que saltam do caminhão para o morro e para a casa: cuidado, meu filho! Se elas te ferram, vais saber o que é a dor de uma saudade!

Nenhum comentário:

Postar um comentário