sábado, 18 de abril de 2009

Matinha

O engenho era simples: a caixa de fósforos vazia, revestida de papel prata, com o talo de vassourinha simulando antena, era recheada de saúvas e o movimento delas dentro do recipiente fechado simulava o som da estática dos radinhos de pilha. O garoto só caiu em si da falcatrua quando recebeu um bruto ataque na orelha direita, ao encostar o “radinho” ao ouvido. Escalou aos berros pela primeira vez o morro. A mãe, esbaforida, gritava para a rua – Cambada de vagabundos! E a molecada esmolambenta devolvia a ofensa com gritinhos agudos de mangoça. Enquanto a mãe arrancava da orelha vermelha e empolada do seu garoto uma saúva que ameaçava esgueirar-se-lhe já pelo ouvido, uns tabefes o lembravam de que ele deveria deixar de ser burro e não se meter com aquela corja de malandros sem rédeas que povoava os mais recônditos buracos do bairro onde eles morariam a partir de então: a Matinha.

Nenhum comentário:

Postar um comentário